Na maioria dos casos, os pais são as figuras familiares mais importante na vida da criança. Desde a gestação, eles estão influenciando no desenvolvimento da criança, desde os primeiros toques na barriga até o presente (e futuro). Por isso, fazemos questão de abordar a importância dessas figuras no tratamento do transtorno do espectro do autismo.
O papel dos pais no desenvolvimento da criança
A família se configura como um espaço de socialização para a criança, onde, na maioria dos casos, ela atua como a primeira fonte de interação social (Vygotsky, 1994). Constitui-se como um ambiente no qual a criança brinca, sorri, chora, se liberta, se protege, ama e, principalmente, cresce. O conceito de família e, consequentemente, pais, muda conforme tempo e contexto, mas não deve negar a principal função: mediar o desenvolvimento infantil (Oliveira, Susuki, Pavinato & Santos, 2020). Através de ensinamentos de rituais, cultura, introdução à linguagem, motricidade e tantos mais, a família vai ajudando a criança a estar no mundo e a construir sua subjetividade, através de um processo de apropriação (Vygotsky, Luria & Leontiev, 1992), ou seja, de tomar posse da realidade e transformá-la em algo próprio. Os pais, em si, têm uma responsabilidade diferenciada do restante da família, por serem aqueles que acompanharam intensamente a gestação, bem como os primeiros anos da infância até a adolescência. Os pais são o primeiro vínculo da criança, algo que é construído desde a fase fetal da gestação (Papalia & Martorell, 2021).
A rede de apoio que os pais fornecem
A criança, mesmo já tendo passado sua fase mais vulnerável, ou seja, perinatal, ainda precisa de muitos cuidados. Assim, os pais aparecem como principal rede de apoio para a criança. Uma rede de apoio se configura, no linguajar comum, como uma ajuda na constituição e manutenção da integridade do sujeito. Em outras palavras, atua como um suporte para que a pessoa enfrente o cotidiano (Yunes, 2014). Principalmente através do vínculo materno, pela amamentação, conexão pela gravidez etc., a criança encontra apoio para absorver e filtrar a realidade e mediar a sua existência no mundo, através do cuidado e na conexão afetiva. O pai, em geral, se mostra como uma figura de apoio mais econômico, porém não se limita a ela. É comum que associemos a figura paterna ao provedor e a figura materna ao cuidador afetivo, mas essas concepções devem ser quebradas, devido a extrema importância do pai na dinâmica mãe-filho, além de atuar na desenvoltura de habilidades variadas. Portanto, o par parental exerce função igualmente importante (Silveira, Bernardes, Wernet, Pontes & Silva, 2015). Também é importante ter em mente que a concepção de pais não segue as regras heteronormativas, mas sua própria regra, que muda conforme contexto. Assim, podemos ter pais homoafetivos, mas que mantém o mesmo grau de importância na rede de apoio infantil (Papalia & Martorell, 2021).
O diagnóstico de autismo para os pais
O autismo, cientificamente chamado de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é um transtorno do neurodesenvolvimento, onde sua causa é multifatorial. É caracterizada por déficits na comunicação, interação e reciprocidade social e padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades (APA, 2014). Essas características se apresentam de maneiras diferentes conforme a criança evolui no seu desenvolvimento, onde aparece dificuldades na reciprocidade social, estereotipias, novas dificuldades de comunicação etc. Além disso, o grau de dependência da criança varia conforme ela necessita de apoio, podendo ir desde necessidade de pouco apoio à muita necessidade de apoio (Machado, Londero & Pereira, 2018). Independente de como aparece, esse diagnóstico aparece de diversas formas para a família, com intensas preocupações, tristeza e frustrações, por exemplo. Por isso, o acolhimento de pais que tiveram diagnóstico do transtorno do espectro do autismo de um filho é imprescindível, não só para orientá-los, mas para acolher angústias e dar voz aos lutos envolvidos nesse processo (Maia, Almeida, Oliveira, de Oliveira, Saeger, de Oliveira & Silveira, 2016).
A importância dos pais na dinâmica do tratamento
O nascimento de uma criança gera uma crise familiar natural, que pode se intensificar com a descoberta de um transtorno, devido ao fato da idealização da criança perfeita e saudável que os pais podem adotar. Além disso, a interação com um filho com TEA pode desencadear sentimento de fracasso, devido as dificuldades. Mas, mesmo com esses obstáculos, a maioria das famílias tem capacidade de reorganização, com a adoção de novas estratégias e suporte de entes queridos e serviços de saúde (Machado, Londero & Pereira, 2018). Esse apoio é imprescindível para que os pais consigam se reorganizar a rotina e re-idealizar a criança e, consequentemente, prover o melhor suporte para a criança que está em tratamento. Diversos estudos comprovam que, quando a criança tem um vínculo sustentado e duradouro com a família, principalmente os pais, o tratamento flui de forma mais satisfatória, com os objetivos se cumprindo de forma mais abrangente para a criança. Outra importante noção que precisa ser adotada pela família é que o tratamento para TEA não representa uma cura, mas um impulso no desenvolvimento da criança. Pais bem-informados, que trocam informações com profissionais, textos científicos etc. também influenciam de forma positiva no tratamento, além de auxiliar na manutenção da resiliência, que se mostra como um conjunto de forças pessoas que capacita a pessoa na superação de adversidades (Walsh, 2005).
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Por Giulia Costa dos Santos (estagiária de psicologia).
Referências
Associação Americana De Psiquiatria. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtorno (DSM-5). 5ª ed. Porto Alegre, Artmed. ISBN-13: 978-8582710883.
Machado, M. S., Londero, A. D. & Pereira, C. R. R. (2018). Tornar-se família de uma criança com transtorno do espectro autista. Contextos Clínicos, 11(3), 335-350. https://dx.doi.org/10.4013/ctc.2018.113.05.
Maia, F. A., Almeida, M. T. C., de Oliveira, L. M. M., Oliveira, S. L. N., Saeger, V. S. A., de Oliveira, V. S. D. & Silveira, S. F. (2016). Importância do acolhimento de pais que tiveram diagnóstico do transtorno do espectro do autismo de um filho. Cadernos Saúde Coletiva, 24(2) https://doi.org/10.1590/1414-462X201600020282.
Oliveira, D .E .S. D., Suzuki, A. C., Pavinato, G. A & Santos, J. V. L. (2020). A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E PARA O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM: um estudo teórico. Intraciência – revista científica, 19. Disponível em: https://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20200522115524.pdf.
Papalia, D. E. & Martorell, G. (2021). Desenvolvimento humano. 14ª edição. Porto Alegre: Artmed. ISBN-13: 978-6558040125.
Silveira, A. O., Bernardes, R. C., Wernet, M., Pontes, T. B. & Silva, A. A. O. (2015). REDE DE APOIO SOCIAL FAMILIAR E A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL. Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social, 4(1). Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/4979/497950105001/html/.
Vygotsky, L. S. (1994). A formação social da mente: o Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. São Paulo: Martins Fontes. ISBN-13: 978-8533622647.
Vygotsky, L. S., Luria, A. R., Leontiev, A. N. (1992). Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone. ISBN-13: 978-8527400466.
Walsh, F. (2005). Fortalecendo a resiliência familiar. São Paulo: Roca. ISBN-13: 978-8572415774.
Yunes, M. A. M. (2014). Reflexões sobre rede de apoio social como mecanismo de proteção e promoção de resiliência. Ambiente & Sociedade, 17(3). https://doi.org/10.1590/S1414-753X2014000300009.