De modo geral, muitos são os estereótipos que circundam o universo do Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA). Um deles, e talvez o que mais preocupa os pais, é a
agressividade. Mas será que esse é um comportamento “inerente” ao Espectro ou
não passa de mais um mito? Descubra abaixo!
A agressividade é um dos comportamentos que popularmente são atribuídos ao TEA.
O que é agressividade? É sintoma do TEA?
A agressividade pode ser definida como um conjunto de comportamentos com função de autopreservação (manutenção de reforçadores e/ou fuga/esquiva de estímulos aversivos), acompanhados por sentimentos de raiva, nervosismo e até mesmo medo. É importante dizer que ninguém é “bom ou mau por natureza”; a agressividade tem seu valor de sobrevivência e é um conjunto de comportamentos que podem se apresentar com qualquer pessoa.
Dentre os critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro do Autismo, não há nenhuma menção de agressividade como sintoma. Isso quer dizer que essa atribuição ao transtorno é uma tentativa superficial e incorreta de explicar a origem desses comportamentos nas pessoas com TEA. Tal
atribuição, no entanto, mais atrapalha do que auxilia, visto que se torna algo estático, inerente ao transtorno e, portanto, impossível de ser modificado. Partindo do viés científico, pensar em estratégias de modificação desses comportamentos agressivos, pressupõe entender as origens e os antecedentes reais que se relacionam com sua ocorrência.
As funções do comportamento
Todo comportamento, seja para pessoas neurotípicas ou neuroatípicas, tem função. Isso significa que se ele está acontecendo, algo o mantém. Muitas podem ser essas funções: às vezes a criança recebe tudo o que quer quando é agressiva, então ela aprende a se comportar dessa forma para obter o que deseja. Em outros casos, essa é a forma mais rápida que ela consegue atenção dos pais ou do seu meio social. Em outros, pela falta de habilidades sociais, é a forma com que consegue respeito e prestígio em seu
círculo de amigos.
Para pessoas com TEA, alguns comportamentos como não permitir ser tocado, birras, autoagressão e heteroagressão (em direção à outras pessoas) não tem como objetivo ferir as outras pessoas, mas pode ter como função, por exemplo, proteger a si mesmo de algo que não conseguem lidar (frustração, sobrecarga sensorial, dificuldade de expressar desagrado, etc).
Orientação parental na MultiGlia
Não é porque a agressividade tem função que não
deve-se colocar limites e ensinar uma forma melhor de se comportar. Para isso,
aqui na MultiGlia, temos orientações familiares uma vez por mês, além de
orientações pontuais após cada sessão, o que torna esse processo algo contínuo.
Nas orientações, além de serem passadas as evoluções da criança, também são
indicados os manejos comportamentais que os pais devem replicar com seus
filhos, para que esses comportamentos inadequados diminuam e sejam substituídos
por comportamentos socialmente aceitáveis. Portanto, é muito importante que os
pais estejam presentes e engajados para cumprir as orientações, pois dessa
forma, a probabilidade da criança se comportar adequadamente em todos os
ambientes que convive é maior.
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Por Maressa
Pessanha Salles (Estagiária de Psicologia).
Referência
Marteleto, M. R. F., Schoen, T. H. F., Chiari, B. M., & Perissinoto, J. (2011).
Problemas de comportamento em crianças com Transtorno Autista. Psicologia:
Teoria e Pesquisa, 27(1), 5-12.
Saraiva,
J. F. (2017). Etologia: agressão e natureza humana. Revista dEsEnrEdoS, 26, 1-15.